Documentos mostram ainda que candidato a prefeito de São Luís movimentou parte de sua emendas por meio de uma das empresas de fachada de seu então assessor-fantasma, Fabiano Bezerra
Por: Yuri Almeida
Fabiano de Carvalho Bezerra, apontado
pela Polícia Federal e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às
Organizações Criminosas (Gaeco) como vendedor de notas frias e um dos cabeças
da organização criminosa (Orcrim) conhecida como Máfia de Anajatuba, embolsou
quase R$ 840 mil como funcionário fantasma no gabinete do ex-presidente da
Assembleia Legislativa do Maranhão, Antônio Carlos Salim Braide, e de seu
filho, o candidato a prefeito de São Luís pelo PMN, deputado Eduardo Salim
Braide.
A informação é
do próprio chefe da Orcrim, repassada aos promotores de Justiça Gladston
Fernandes de Araújo, Marco Aurélio Cordeiro Rodrigues e Marcos Valentim
Pinheiro Paixão, durante oitivas.
Segundo
documentos do Gaeco, o dinheiro foi colocado no bolso de Fabiano Bezerra entre
os anos de 2008 e 2012, quando era lotado no cargo em comissão de Técnico
Parlamentar Especial de Braide pai, recebendo R$ 10 mil como salário; e 2012 a
2014, quando permaneceu na AL-MA no mesmo cargo, desta vez lotado no gabinete
de Braide filho, mas com o salário maior, de cerca de R$ 15 mil.
De acordo com o Relatório do
Procedimento Investigatório Criminal (PIC) n.º 003/2014, onde está um trecho
desse depoimento — e que pode ser conferido acima — , Fabiano Bezerra declarou
aos promotores que trabalhou de forma legal nos gabinetes dos Braide e nunca
desviou dinheiro público por meio das empresas de fachada A4 Serviços e
Entretenimento Ltda, Vieira e Bezerra Ltda - ME (atual F. C. B. Produções e
Eventos), M. A. Silva Ribeiro-EPP (antiga M.R. Comércio e Serviço) e
Construtora Construir Ltda-ME.
Contudo,
segundo informa o Gaeco no documento, o cruzamento entre os depoimentos
prestados e as provas carreadas aos autos, notadamente o Afastamento de Sigilo
Bancário e Fiscal, mostram que as declarações Fabiano Bezerra não correspondem
com a realidade dos fatos.
Ainda segundo
o Gaeco, o Relatório de Análise n.º 04/2015 mostra que, só entre 2009
e 2013, o então assessor dos Braide movimentou o total de R$ 19.967.829,88
(dezenove milhões, novecentos e sessenta e sete mil, oitocentos e vinte e nove
reais e oitenta e oito centavos). Todo esse dinheiro teve como rementes a
Assembleia Legislativa do Maranhão; as empresas A4 Serviços e
Entretenimento, A. J. F. Júnior Batista Vieira - ME e Escutec –
Pesquisas de Mercado e Opinião Ltda; e Anílson Araújo Rodrigues, laranja a
A4 e delator de todo o esquema à Polícia Federal.
Embora o Gaeco
não informe no PIC n.º 003/2014, o ATUAL7 apurou que a informação dada por
Fabiano Bezerra sobre quando pulou do gabinete de Braide pai para o de Braide
filho também não corresponde com a realidade dos fatos. Segundo cópia do Diário
Eletrônico da AL-MA, a primeira nomeação de Fabiano do gabinete parlamentar do
candidato a prefeito pelo PMN foi em março de 2011, com retroativa para o 1º
dia de fevereiro do mesmo ano.
Emendas
Além de sinecurar dois chefes e quase todos os outros
participantes da Orcrim no próprio gabinete, a suspeita de ligação
direta de Eduardo Braide com a Máfia de Anajatuba — que, inclusive, é alvo de investigação sigilosa da
Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) — tem relação ainda com parte de suas
emendas parlamentares.
Isso ocorre
porquê, em 2014, quando Fabiano Bezerra ainda era funcionário fantasma de seu
gabinete na Assembleia, Eduardo Braide destinou pelo menos R$ 70 mil, por meio
da empresa de fachada F. C. B. Produções e Eventos, para a realização do
Carnaval em Anajatuba, coração de todo o esquema criminoso.
Coincidentemente,
também naquele ano, quando se reelegeu a deputado estadual, Eduardo Braide mais
que quadruplicou seus votos em Anajatuba, terminando como o mais votado no
munício. Entre esses eleitores, estava Natasha Alves Lesch, esposa de
Fabiano Bezerra e integrante da quadrilha que saqueou os cofres de Anajatuba.
Em
interceptação telefônica feito pelo Gaeco, com autorização da Justiça, Fabiano
foi flagrado mandando que a mulher votasse em Eduardo Braide para deputado
estadual. Na conversa, gravada em 5 de outubro de 2014, dia da votação,
ele chega a repetir à Natasha o número de Braide, algarismo por algarismo. Ao
explicar que era o candidato, Fabiano disse que se tratava do filho de seu
sócio, o pai de Eduardo, Carlos Braide, que também é apontado pelo Gaeco
como chefe da máfia.
O diálogo
entre ambos é interessante, pois Natasha deveria, obrigatoriamente, saber quem
era Eduardo Braide, já que, segundo depoimento do laranja Anílson Araújo
Rodrigues sobre o esquema, feito na Superintendência da Polícia Federal no
Maranhão, ela também era lotada no gabinete do parlamentar. O documento onde
consta esse depoimento é o mesmo mostrado pelo programa Fantástico, da Rede
Globo, na estreia do quadro “Cadê o dinheiro que tava aqui?”[assista a estreia ].
O ATUAL7 tem
tentado contato com Eduardo Braide e sua assessoria de imprensa,
insistentemente, desde o início desta semana, para responder qual sua ligação e
a de seu pai com Fabiano Bezerra, mas nem o candidato e nem sua a sua
assessoria retornaram o contato até a publicação desta reportagem. Não foi
possível obter o contato direto de Carlos Braide.
A imagem em
destaque desta reportagem, que mostra Fabiano Bezerra com um bolo de R$ 50 mil
de dinheiro público desviado de Anajatuba, foi exibida em reportagem do
Jornal Nacional, também da Rede Globo, no dia 20 de outubro do ano passado,
quando ele outras sete pessoas participantes da quadrilha foram presos pela PF [confira a reportagem do JN].
Apesar da
vasta documentação que aponta a ligação direta de Eduardo Braide com o chefe da
quadrilha de Anajatuba, o candidato a prefeito de São Luís tem se feito de
vítima diante das publicações, acusado seus adversários de denegrir sua imagem,
processado blogueiros — inclusive o editor do ATUAL7 —, alegando que tudo não
passa de factoides e documentos falsos.
Humberto
Coutinho citado
Durante as
oitivas, Fabiano Bezerra detalhou ainda que, além do então prefeito de
Anajatuba, Hélder Aragão, quem também manteve negócios com a empresa de fachada
Vieira e Bezerra (F. C. B. Produções e Eventos) foi a prefeitura de Caxias, por
meio do então prefeito e atual presidente da AL-MA, Humberto Coutinho (PDT), e
o seu sobrinho e atual prefeito, Léo Coutinho (PSB). Não há detalhes de quanto
em dinheiro foi movimentado entre eles.
Porém, Fabiano
explica na oitiva que esses contratos foram articulados pelo dono do
instituto Escutec, Fernando Júnior - outro apontado pelo Gaeco como cabeça da
Máfia de Anajatuba -, que também conseguiu operar a empresa de fachada na
gestão do prefeitos de Pinheiro, Filuca Mendes (PMDB), e Parnarama, David
Pereira de Carvalho (PSB). Todas entraram na teia do crime ao contratar a
Vieira e Bezerra para a realização de festas de Carnaval nas cidades, coincidentemente
mesmo destino das emendas de Eduardo Braide.
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