É uma glória para o nosso Estado a
descoberta que acaba de ser feita no Maranhão — o penúltimo estado comunista
no mundo depois que a Albânia acabou com esse sistema —, de que descobrimos
aquilo que nunca tinha sido achado na mesa dos cientistas: o medicamento
universal que liquida com qualquer doença.
A Sociedade
Internacional de Medicina,
com sede em Londres, acaba de tomar conhecimento de que aqui foi descoberto o
remédio final para a saúde, que causa verdadeiro milagre: o Sorvete Milagroso!
A Operação Pegadores,
deflagrada pela Polícia Federal, que há quinze meses acompanhava os trabalhos
estatais, tornou transparente o programa governamental para salvar a Saúde
Pública.
Mais de UM MILHÃO DE REAIS custou a
empreitada do Governo do Maranhão.
Foi feito o cálculo
de que é um remédio muito barato para os hospitais. O problema é saber se cada paciente
precisa de casquinha de uma bola ou de duas bolas e também o sabor, se de coco
ou de cocô, de chocolate, de baunilha ou de açaí. Tudo feito aqui.
Foi um número tão
exagerado que levou a Polícia Federal a desconfiar. Só um hospital consumiu quinhentos
mil casquinhas de sorvete de uma bola, ao custo unitário de dois reais por
bola. Assim, em cada cama, quem chegava encontrava o paciente chupando uma
casquinha de sorvete. Faltava remédio, algodão, seringa e roupa lavada, mas
sorvete jamais. Quinhentos
mil sorvetes sabor Dino. Não ficou muito claro se, burlando a
pesquisa, a turma também chupava picolé.
Outra coisa
fantástica é o fato de que toda essa produção brutal de sorvete (e picolé?) era
produzida por uma firma fantasma, que não existia, mas produzia e consumia o dinheiro
que, segundo o slogan do governo, deveria ser “de todos nós”. E os marqueteiros
ficaram também ouriçados com a possibilidade de substituir o slogan do Governo
por “Sorvetes de Todos Nós!” Seria mais atrativo e chamativo.
Mas a coisa não ficou só
por aí: para essa comilança de sorvete tinha que ter pessoal e, portanto, houve
a contratação de 424
funcionários fantasmas, para preparar e para saborear os
sorvetes (e os picolés?).
A operação era tão
secreta que
de nada sabiam o Secretário de Saúde, Dr. Carlos, o Governador, Dr. Dino, o
Secretário da Articulação Política, Dr. Jerry, o Dr. dos Direitos Humanos e
Participação Popular — sim, pois tanto sorvete é caso de direitos humanos e dos
direitos dos políticos que apoiavam todo o governo do sorvete.
O milagre é que
toda a fórmula de feitura do sorvete da trapaça era explicada ao Secretário de
Saúde, com folha
suplementar mandada preparar por alguém (?) de cima, que também não sabia de
nada — só de tudo.
Sendo assim, entre
sorvetes, picolés e roubalheira fica o pobre Maranhão com 20 mortes por semana, estradas esburacadas, filas e filas
nos hospitais e nas UPAs, sem remédios e algodão. Os doentes, à beira da morte,
só podem balbuciar:
— Me dá um sorvete aí!
José Sarney
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