Por: Sergio Linhares
Em meados de sua gestão o ex-prefeito João Castelo levou até a Câmara de Vereadores um projeto que visava revisar totalmente o sistema de transporte público de São Luís. O ex-prefeito sabia que ali estava arranjando briga com adversários poderosos: os donos de empresa de ônibus de São Luís.
Castelo pretendia remodelar todo o sistema de transporte da cidade. Acabar com o sistema de “consórcios” criado por Tadeu Palácio que colocou a maioria absoluta das linhas nas mãos de apenas três empresas. Com a nova licitação seria possível remodelar linhas, horários e quantidade de veículos com base na necessidade atual da cidade. “O sistema que existe aí hoje foi criado décadas atrás. As necessidades são outras e temos que nos adequar a elas”, dizia Castelo na época.
A notícia da nova licitação chamou a atenção de empresários do Brasil inteiro. O mercado de São Luís, que ao contrário do que dizem os donos de empresa é muito rentável, finalmente estaria aberto a uma concorrência.
Veio então o ano da eleição e os donos de empresas entraram de cabeça na campanha do jovem Edivaldo Holanda Jr. Pela primeira vez na história das eleições municipais a situação era humilhada pela estrutura eleitoral da oposição. Para cada comitê de João Castelo, Edivaldo Holanda tinha dois ou três. A discrepância entre as duas campanhas era óbvia.
João Castelo acabou derrotado e a nova licitação d o sistema de transporte foi engavetada por Holandinha. Após um ano de governo, o prefeito afrouxou a fiscalização das linhas e os donos de empresa simplesmente colocavam quantos ônibus queriam, no lugar que desejassem e quando achassem melhor. Linhas como São Francisco tiveram quedas no número de ônibus. A população começou a ver a “mudança” e reclamar dela.
No dia 22 de março a população, irada com a falência do sistema, decidiu protestar. Sob o comando de Suzane Sanches, centenas de pessoas pararam o trânsito na cidade após ficarem horas esperando algum ônibus da linha Calhau Litorânea no Terminal da Integração. Por toda a cidade começaram a acontecer protestos contra a péssima qualidade do sistema de transporte da capital.
As manifestações serviram de aviso: o afrouxamento da fiscalização pela prefeitura não iria ser compartilhada pelo povo de São Luís. Edivaldo teve que voltar a atrás e ordenar que a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes voltasse a fiscalizar os ônibus.
Foi então que os empresários, com a ajuda dos pelegos do Sindicato dos Rodoviários, jogaram a última na carta na manga: a greve. Aliás, em 2012 a mesma jogada foi tentada com João Castelo. Contudo, o ex-prefeito não retrocedeu e a greve acabou sem atingir o seu objetivo, que era o aumento das passagens.
Nesta semana o movimento grevista tutorado por patrões sequestrou a população enquanto a Prefeitura mais uma vez se omitia. O Ministério Público teve que entrar em cena e, sem ter o que fazer, acabou tornando insustentável a manutenção do preço da passagem. Apesar das exigências de aumento dos rodoviários ser pouco maior do que 5%, o aumento das passagem chegou a incríveis 25% em algumas situações. O aumento não aconteceu uma base de cálculo proporcional a cada um dos níveis. Todas irão aumentar R$ 0,30. A passagem mais barata deixa de custar R$ 1,30 e passa a R$ 1,60 (+23%). A que antes custava R$ 1,60, passa a ser R$ 1,90 (+18,75%). A mais cara pula de R$ 2,10 para R$ 2,40 (+14,2%).
E, apesar de ser posar de vítima e afirmar que está sendo “pressionado” pelos donos de empresa, o prefeito Edivaldo Holanda Jr. Não falou em nenhum momento na possibilidade de retomar o processo de licitação.
Os fatos
Holandinha não fez e não irá fazer nenhuma licitação que tire a população das garras de Primor, maranhense e Taguatur. Se fizer algo, fará para mantê-los.
Esse sindicato fez uma greve que resultou em um aumento de passagem que foi de 14% a 23%. No entanto, o ganhou real do trabalhador não chegará a 7%. Está mais do que comprovado de que é formado por pelegos.
E ao usuário do transporte coletivo resta apenas se arrepender de ter na prefeitura uma pessoa mais preocupada em garantir o bem-estar de empresários do que da população.