Reportagem com acesso a whatsapp do MBL
desde julho acumulou conteúdo que totaliza 685 páginas. Mensagens revelam
exaltação a evangélicos, xingamentos a Bolsonaro, paixão por Doria, apoio ao
governo Temer, golpe em ala do PSDB, estratégias para 2018 e modelo de
financiamento do grupo
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Líderes do MBL: Fernando Holiday, Renan Santos e Kim Kataguiri |
O Movimento Brasil Livre (MBL) já tem seu plano
traçado para a disputa eleitoral de 2018: levar o atual prefeito de São Paulo,
João Doria (PSDB), para o Palácio do Planalto.
A estratégia para o feito é construir
uma aliança entre PMDB, DEM, evangélicos e ruralistas – e eventualmente
abandonar de vez o PSDB. As informações foram publicadas em longa reportagem da
revista Piauí, em seu site.
“Com ou sem PSDB. A aliança que pode
lhe eleger [Doria] está no PMDB, DEM, evangélicos, agro e MBL. Nosso trabalho
será o de unir essa turma em um projeto comum”, escreveu Renan Santos, um dos
líderes do MBL, em um grupo de WhatsApp denominado MBL- Mercado, no dia 27 de
agosto.
“Espero, de coração, que a tese que a
gente defende (aliança entre setores modernos da economia + agro + evangélicos)
seja aplicada. É a melhor forma de termos um pacto político de centro-direita,
que a dialoga com o campo e com a classe C”, continuou Santos.
A reportagem teve acesso ao histórico
de conversas do grupo no período de 25 de julho a 27 de setembro. Criado por um
“entusiasta do MBL”, o grupo de WhatsApp funciona como canal entre o movimento
e executivos de médio e alto escalão do mercado financeiro. Com mais de 150
funcionários de empresas como Banco Safra e XP Investimentos, o objetivo
inicial do grupo era levantar dinheiro para o movimento e levar pautas dos
executivos para discussões internas.
Em meio à disputa travada nos
bastidores do PSDB entre Doria e o governador Geraldo Alckmin (SP) pelo posto
de candidato tucano à Presidência da República em 2018, “o partido é tratado
como um território a ser pilhado pelo MBL”, diz a reportagem, antes de
transcrever uma mensagem enviada por Kim Kataguiri, outro líder do movimento,
no dia 22 de agosto: “A ideia é deixar todo esse povo podre afundando com o
PSDB e trazer a galera mais jovem e liberal para o MBL”, escreveu.
No ninho tucano, os alvos preferidos do
MBL são os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), bem como o próprio
Alckmin. Em público, no entanto, os líderes do movimento adotam outro discurso.
Em troca de mensagens sobre Aécio no
dia 5 de setembro, Santos escreveu que torce pela prisão do tucano, mas disse
que é preciso ter cuidado para não favorecer o “ressurgimento” da esquerda: “Só
não vamos alterar a configuração atual das forças políticas nem fornecer uma
narrativa que favoreça o ressurgimento da esquerda enquanto isso. Essa é a
tônica do que defendemos”.
Embora não faltem críticas aos
ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, ao PT, ao PSOL e à Rede, críticas ao
deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e ao apresentador de TV Luciano Huck,
virtuais candidatos ao Planalto, aparecem com mais força. Enquanto Bolsonaro é
chamado de “tosco”, “ignorante”, “sem noção” e “inadmissível”, Huck é visto
como um perigo por sua eventual capacidade de “diluir o voto da direita”. “Huck
é lixo. Politicamente correto, desarmamentista, ambientalista de boutique,
intervencionista”, escreveu Santos.
No grupo de WhatsApp, os executivos do
mercado financeiro informavam valores de doações. Em um período de duas
semanas, a troca de mensagens apontou, diz a reportagem, um volume total de
doações de 50 mil reais para o MBL.
CartaCapital
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