Por: Diego Emir
Mesmo
sem mandato parlamentar ou cargo na estrutura pública ou partidária, o
ex-presidente da República José Sarney está longe da aposentadoria como
político e está mais atuante do que nunca. O ex-presidente do Senado conseguiu
colocar dois dos seus mais fiéis auxiliares em cargos estratégicos do Senado:
João Alberto (PMDB-MA) na segunda vice-presidência do Senado e Edison Lobão
(PMDB-MA) como presidente da mais importante comissão da Casa, a de
Constituição e Justiça.
Em
dezembro a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) acertou com vários colegas do seu
novo partido (ela deixou o PT em abril de 2015) a sua candidatura à
vice-presidência do Senado. Ela apoiava a eleição de Eunício Oliveira (PMDB-CE)
e, em troca, a legenda a indicaria como concorrente ao segundo cargo do Senado.
Para conseguir a vaga, Marta também prometeu apoiar o então presidente da Casa,
Renan Calheiros (PMDB-AL), para a liderança da legenda. Em contrapartida, Renan
apoiaria a colega.
Sarney
entrou no circuito na virada do ano. Morando em Brasília, o antigo parlamentar
participou de conversas e ofereceu um nome da sua confiança para o mesmo cargo
disputado por Marta. Tirou da manga João Alberto, o quase eterno presidente do
conselho de Ética do Senado, acusado de engavetar denúncias contra os colegas.
Pressionada e sem força para enfrentar o grupo de Sarney, Renan e Romero Jucá
(RR), Marta trocou de desejo e passou a articular sua eleição para a
presidência da CCJ.
Novamente
Sarney entrou em campo e ofereceu o nome de Lobão como alternativa a Marta. A
senadora não resistiu e abriu mão do desejo pela presidência da Comissão de
Assuntos Sociais. Com João Alberto na Mesa Diretora e sem Marta no caminho,
restava o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) que ainda atrapalhava o grupo
Sarney-Renan-Jucá de garantir um amigão na presidência do colegiado que
escolheria do novo ministro do STF. Lobão e João Alberto foram assessores de
Sarney e nada decidem sem consultar o ex-chefe.
“Interferência externa”
Lira
retirou a candidatura nesta quarta-feira (8) depois que ameaçou, na reunião da
bancada do PMDB, se lançar candidato avulso à presidência da CCJ e concorrer
com Lobão. Foi um constrangimento no colegiado. A reação de Renan beirou o
desespero. Se Lira mantivesse a candidatura, a liderança de Renan seria
comprometida porque o paraibano tinha chances concretas de se eleger.
“Houve
interferência externa à bancada”, comentou Lira com amigos. A interferência tem
nome: Sarney. Os aliados do ex-presidente comemoraram.
Na
segunda-feira (6), o Ministério Público pediu abertura de inquérito para
investigar Sarney, Romero Jucá e Renan Calheiros pelo crime de tentativa de
embaraçar as investigações da Lava Jato. Sarney foi gravado por Machado
prometendo ajudar a livrá-lo das investigações coordenadas pelo juiz Sergio
Moro. O MP quer o inquérito por causa das gravações feitas por Machado.
Nos
diálogos, Sarney promete a Machado falar com o presidente Michel Temer para
saber o que estava acontecendo na Lava Jato, interceder junto ao ex-ministro do
STJ Cezar Asfor Rocha, seu amigo, para que pedisse arrego ao então ministro
responsável pela Lava Jato, Teori Zavaski. E perguntou: “Mas alguém sabe que
você me ajudou?”. Machado garantiu que não.
Fator Moraes
O
colegiado que será coordenado por Lobão a partir da próxima semana vai
sabatinar e votar se o ex-titular da Justiça Alexandre Moraes atende as
pré-condições de notório saber e idoneidade, o que é preciso para que seja
confirmado como novo ministro do Supremo. Lobão, ex-ministro de Minas e
Energia do segundo governo Lula e em um pequeno período da gestão Dilma, é hoje
um dos mais fortes apoiadores da gestão Michel Temer. Ele vai definir agenda e
o ritmo da sabatina de Moraes na CCJ, terá o poder de dar ou cortar a palavra
nos debates na comissão, deferir ou arquivar recursos, ou ainda barrar
protestos de parlamentares da oposição. Não é pouco.
O
governo quer aprovação urgente do nome de Moraes no Senado. Até porque ele será
de uma turma, no STF, encarregada de revisar as decisões do colegiado que fará
o primeiro julgamento dos investigados e réus envolvidos em operações
policiais.
O
poder de Sarney é inconteste. No Legislativo, com uma bancada fiel de senadores
e deputados, no Executivo, com o filho ministro do Meio Ambiente e ascendência
sobre Temer e outros ministros, e principalmente no Judiciário, onde o tamanho
da sua “bancada” é incalculável.
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