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reforma é certa, só resta saber quando virá e quem a fará. Por essas ironias do
destino, a má notícia – de que o Fepa precisa ser reformulado – pode ser dada,
em breve, pelos mesmos que no plano estadual silenciam sobre a situação do
fundo e no cenário federal atacam a Reforma da Previdência.
Por Eden Jr.*
Nas últimas semanas têm repercutido com intensidade na imprensa local notícias sobre a Previdência do servidor público do Estado. Matérias dão conta de atrasos nos pagamentos de aposentadorias e de uma antecipação de resgate, via decisão judicial, de aplicações do fundo de previdência, que totalizam R$ 400 milhões, as quais somente estariam totalmente disponíveis para saque em 2024. Tais notícias geraram questionamentos acerca da saúde financeira do sistema estadual de aposentadoria.
O pagamento das aposentadorias, reformas e pensões
dos servidores do Estado do Maranhão concedidas a partir de 1996 é garantido
pelo Fundo Estadual de Pensão e Aposentadoria (Fepa), criado pela Lei
Complementar n° 35/1997. As receitas que o Fepa dispõe para honrar seus compromissos
são: contribuições dos servidores e do Estado, renda de suas aplicações
financeiras e de aluguéis de seus imóveis, recursos provenientes de prestações
dos financiamentos imobiliários, entre outras. Indispensável frisar, que o Fepa
tem um invejável acervo de imóveis (Centro Social Recreativo do antigo Ipem,
Sítio Santa Eulália, Hospital Carlos Macieira etc.) que pode ser usado para
garantir a sua solvência. Portanto, o Fepa é tido como um “Regime
Capitalizado”, já que conta com receitas e patrimônio próprios para arcar com
suas obrigações.
A outra parte de aposentadorias e pensões
outorgadas até 1995 é custeada por recursos do Tesouro Estadual, é o “Regime
Orçamentário”. Neste, não há contribuições ou reservas para bancar esses
benefícios, e os aposentados e pensionistas são financiados por recursos
consignados anualmente no orçamento do Estado, como se servidores da ativa
fossem. Tanto é, que para efeitos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o
valor destinado ao pagamento desses direitos integra o limite de gasto com
pessoal a que cada ente está submetido (no caso dos estados, o limite para as
despesas com pessoal é 60% da Receita Corrente Líquida/RCL). Assim, tem-se um
duplo regime de aposentadoria dos servidores do Maranhão: o “Regime
Orçamentário”, para os benefícios autorizados até dezembro de 1995 (financiados
por recursos do Tesouro Estadual), e o “Regime Capitalizado”, para os
benefícios gerados a partir de 1996 (que são garantidos pelas diversas receitas
do Fepa).
A despeito de que no decorrer do tempo o número de
segurados do “Regime Orçamentário” vá diminuindo, em razão de óbitos, pois não
há novos ingressos (eram 9.689 filiados em janeiro 2013, contra 8.981 em março
deste ano), e, consequentemente, esses gastos vão sendo reduzidos, em 2017 foram
R$ 570 milhões e em 2090 serão apenas R$ 60 mil (conforme demonstrativo da
LRF), não resta dúvida de que esse é um rombo da Previdência estadual como um
todo, pois no passado não se adotaram medidas tempestivas para saná-lo. Esses
R$ 570 milhões, que saíram do Tesouro em 2017 para pagar aposentadorias que não
têm cobertura financeira, é uma quantia nada desprezível, maior do que os
orçamentos somados da Defensoria e do Ministério Público, e que poderia estar
sendo direcionada para áreas carentes como: saúde, educação ou segurança.
Quanto ao Fepa – “Regime Capitalizado” –, hoje
administrado pelo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do Maranhão
(Iprev), teve em 2017, de acordo com Relatório de Gestão Fiscal do Estado
(RGF), receitas de R$ 1,020 bilhão e despesas de R$ 1,540 bilhão, resultando
num déficit de R$ 520 milhões – maior do que todo o orçamento de 2017 da Uema,
R$ 440 milhões. Pelas projeções contidas no RGF, o Fepa terá um rombo de R$ 454
milhões este ano, número que irá piorando, ano a ano, até 2090, quando atingirá
R$ 2,683 bilhões. O último Relatório de Acompanhamento de Investimentos do
Fepa, disponível no site do Iprev e referente a 31 de maio deste ano, aponta
que as aplicações do fundo somavam R$ 560 milhões. É possível que hoje, após o
saque de R$ 400 milhões promovido pelo Governo do Estado no final de junho,
mediante autorização judicial, o Fepa tenha cerca de R$ 160 milhões em
investimentos financeiros (se o valor sacado foi usado para custear a folha de
aposentados, conforme dito pelo Governo à Justiça) ou pouco mais de R$ 560
milhões (se os R$ 400 milhões retirados foram direcionados para outras
aplicações, como alegou o Iprev).
Mesmo se considerando que o saldo dos investimentos
bancários do Fepa é de R$ 560 milhões, esse não garantiria nem mesmo o
pagamento de aposentadorias e pensões por mais de cinco meses (média mensal de
R$ 125 milhões em 2018). Claro que o Fepa, como dito, ainda dispõe de notável
conjunto de imóveis a seu dispor, para fazer face a suas obrigações, como
também de outros recursos, como aluguéis e rendas de financiamentos
imobiliários. Contudo, esses haveres, ainda que de grande monta, não
garantiriam indefinidamente os sucessivos déficits projetados para o Fepa.
Com um rombo agregado de mais de R$ 1 bilhão em
2017 (“Regime Orçamentário” + “Regime Capitalizado”/Fepa) e perspectivas
negativas, o sistema de aposentadorias e pensões dos servidores públicos do
Maranhão, em pouco tempo, passará por reforma, queiram ou não Governo,
deputados ou servidores. E as alterações necessariamente incluirão: aumento da
idade de aposentadoria e de contribuições, além de restrição de benefícios. Não
se descarta, até mesmo, a migração para um modelo real de capitalização, em que
cada funcionário faria depósitos em contas individuais, que seriam aplicados
para gerar rendimentos, a fim de pagar as aposentadorias no futuro, como já
ocorre com os novos servidores federais e do Estado de São Paulo.
O Fepa – assim como o INSS ou o fundo de
aposentadoria do funcionalismo federal – estruturalmente é um sistema inviável,
em razão de drásticas mudanças sociais como: elevação da perspectiva de vida,
diminuição da taxa de natalidade, transformações no mercado de trabalho,
redução no ingresso de novos servidores, entre outras. É uma dinâmica
inclemente, que fez o Fepa sair de superávits em 2014 (R$ 316 milhões) e em
2015 (R$ 6 milhões), para déficits em 2016 (R$ 262 milhões) e em 2017 (R$ 520
milhões), e os investimentos financeiros – provavelmente usados para suavizar
os rombos – minguarem a cada ano: 2014 (R$ 1,190 bilhão), 2015 (R$ 1,155
bilhão), 2016 (R$ 1 bilhão) e 2017 (R$ 665 milhões).
A reforma é certa, só resta saber quando virá e
quem a fará. Por essas ironias do destino, a má notícia – de que o Fepa precisa
ser reformulado – pode ser dada, em breve, pelos mesmos que no plano estadual
silenciam sobre a situação do fundo e no cenário federal atacam a Reforma da
Previdência.
*Doutorando
em Administração, Mestre em Economia e Economista (edenjr@edenjr.com.br)
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